domingo, 31 de julho de 2011

Lammas

Lugh
Sabbath da Primeira Colheita (02 de Fevereiro no Hemisfério Sul / 01 de Agosto no Hemisfério Norte), também conhecido como Lughnasadh (pronuncia-se "lug-na-ssádh") - O nome original (Lughnasadh) significa, literalmente, a "festa de Lugh" (Lugh é um deus celta), Véspera de Agosto e Primeiro Festival da Colheita, o Sabbath Lammas é um Festival da Colheita. 
Tema do Sabbath:  A Deusa como a Rainha de abundância,  é honrada como a mãe que deu luz  à generosidade.  O Deus é honrado como o Pai da Prosperidade. Neste dia, o pão é assado por tradição e as primeiras frutas do jardim são colocadas sobre o  altar. Uma porção do pão é oferecida tradicionalmente ao povo das fadas.
Nesse Sabbath (que marca o início da estação da colheita e é dedicado ao pão), agradecemos aos deuses pela colheita com várias oferendas às deidades para assegurar a continuação da fertilidade da terra, e honramos o aspecto da fertilidade da união sagrada da Deusa e do Deus.
Nesse dia sagrado, os sacerdotes druidas realizavam rituais de proteção e homenageavam Lugh, o deus celta do sol.
Em outras culturas pré-cristãs, Lammas era celebrado como o festival dos grãos e o dia para cultuar a morte do Rei Sagrado.                  
A confecção de bonecas de milho (pequenas figuras feitas com palha trançada) é um antigo costume pagão realizado ainda hoje como parte do rito do Sabbath de Lammas. As bonecas (ou bebês da colheita, como são chamadas algumas vezes) são colocadas no altar para simbolizar a Deusa Mãe da colheita é costume, em cada Lammas, fazer (ou comprar) uma nova boneca de milho e queimar a anterior (do ano passado) para dar boa sorte.    
Os alimentos pagãos tradicionais do Sabbath Lammas são pães caseiros (trigo, aveia e, especialmente, milho), bolos de cevada, nozes, cerejas silvestres, maçãs, arroz, cordeiro assado, tortas de cereja, vinho de sabugueiro, cerveja e chá de olmo.

Correspondências de Lughnasadh

·         CORES: marrom, laranja, vermelho, amarelo.
·         DEUSES: das colheitas e dos grãos, o principal deus é Lugh.
·         ERVAS: peonia, flor de trevo, heliotrópio, verbena, murta, rosa, girassol, musgo irlandês, trigo, salsa, centeio, aveia, cevada, arroz, alho, cebola, manjericão, menta, babosa, acácia, folha de maçã, folha de framboesa, folha de morango, folha de uva, azevinho, confrei, calêndula, vinheiro, hera, avelã, espinheiro-preto, sabugueiro.
·                    PEDRAS: olho-de-gato, citrino, aventurina, topázio dourado, obsidiana, ágata musgosa, rodocrosita, quartzo claro, mármore, ardósia, granito, seixos de rio.

Algumas sugestões de jogos de Lammas:
• Corrida com três pernas
• Corrida com ovo na colher
• Corridas de revezamento em equipe
• Braço-de-força (em homenagem ao Deus)

O importante é adaptar os jogos às pessoas que estarão participando das festividades no dia. Use a criatividade!                  
Dedicado à Lugh, o deus celta da luz, o sabbath representava seu sacrifício anual que garantia a maturação das sementes, sua colheita e o fornecimento dos grãos para o próximo plantio. Neste festival, temos o outono paralelo à união sacrificial de Beltane com o deus do ano crescente.              O Deus-Sol se sacrifica para renascer nos grãos, o que faz deste festival uma celebração essencial dos grãos e pães.      
Tailtu, a Deusa Mãe, também era celebrada com danças e cantos, exaltada como a fonte de toda vida e abundância. Os primeiros frutos e cereais colhidos eram-lhe ofertados nos altares de pedra dos bosques sagrados de carvalhos.             Vemos Lammas, então, como um festival de regeneração. É o primeiro festival da colheita (depois vêm Mabon e Samhaim). Celebramos a Deusa, a plenitude da Terra, a agricultura e todas as realizações em nossas vidas.                    
No início de fevereiro, celebramos a primeira colheita. É de extrema importância que celebremos o alimento que um dia foi cultivado e hoje está em nossa mesa. A Terra foi fecundada pelo Sol e graças a esse casamento sagrado temos o que comer; temos vida.                                                                   O Sol alcançou seu ponto mais alto no solstício de verão e agora está minguando cada vez mais... Devemos celebrar tudo o que foi feito, assim como a ida do Deus para a Summerland (País de verão). Os dias estão ficando mais curtos e começamos a tomar consciência da chegada do inverno em breve. Uma festa de grãos, frutas e vegetais é alegremente celebrada, como todos os festivais pagãos.

Antigas tradições:

- Fazer velas para honrar a Deusa e o Deus.
- Coletar água da chuva e de tempestade para o uso de feitiços e para potencializar objetos mágicos.
- Criar e enterrar uma Garrafa de Bruxa.
- Fazer uma Boneca de Milho e guardar para o próximo Imbolc.
- Fazer uma Roda de Milho.
- Fazer um piquenique mágico com libações para a terra, de pão e vinho.
Comidas típicas: ervas frescas, frutas e vegetais, pão de milho e de grãos, amoras pretas, tortas, sidra, vinho de pétalas de rosas.
- Fazer pão de grãos

Alguns costumes de Lughnasadh

- Lughnasadh era a festa céltica que comemorava os jogos funerais de Lugh. Não a morte de Lugh, mas os jogos que ele institucionalizou para honrar a morte de sua mãe adotiva, Tailtu. Na Irlanda, Lughnasadh é chamado de "Jogos de Tailtu".
- Nos antigos rituais de Lammas, havia uma efígie do Deus Milho feita com vime e outros materiais. O homem de vime era preenchido com todos os "sacrifícios" da aldeia: frutas, grãos, riquezas, vinho e outras oferendas. Uma fogueira enorme era construída e consagrada. Durante a cerimônia deste festival, o homem de vime era lançado sobre o fogo e sacrificado, levando assim os desejos das pessoas ao mundo dos deuses.
- Simplificando a ortografia, Lúnasa significa "mês de agosto" em gaélico-irlandês. Lunasda e Lunasdal signigicam "Lammas" (primeiro de agosto em gaélico-escocês). Na Ilha de Man, o equivalente é Laa Luanys ou Laa Lunys. Na Escócia, é Iuchar. Na península de Dingle é conhecida por An Lughna Dubh ("o festival sombrio de Lugh").

Lugh

Na maioria dos livros, encontramos Lugh classificado como um deus solar, mas ele é muito mais complexo do que isso. Provavelmente, tais associações suas ao Sol devem ter vindo dos povos gregos e romanos, ao entrarem em contato com a cultura celta. Na Gália e na Grã-Bretanha, existem muitos exemplos de cultos ao deus Lugh.
O nome Lugh vem do irlandês antigo e significa "brilho" ou "luz". Seu nome, aliás, aparece no nome de muitos lugares da Europa: Lugo (na Galícia), Leiden (na Holanda), Luguvalium (na Inglaterra), Lughbhadh (na Irlanda), Lugdunum (hoje Lyons, na França).
Há um grande número de imagens de Lugh nas terras célticas, o que comprovam a sua importância. De acordo com Cláudio Crow Quintino, autor de 'O Livro da Mitologia Celta', "na Gália foram encontrados diversos vestígios dos cultos a esta deidade, que se manifesta - de acordo com o padrão celta - de forma tríplice". E continua: "A representação iconográfica de Lugos, seu nome gaulês, por vezes o mostra com três rostos e três falos."Isso confirma a sua natureza tríplice. Existia um festival chamado Oidhche Lugnasa, o festival do Pão Fresco, que é uma celebração celta da colheita dedicada à deusa Tailtu e a Lugh. Ela era uma antiga deusa irlandesa da Terra, mãe de Lugh. Ele então criou o festival de Lughnasadh para reverenciá-la. Em tempos antigos, tais celebrações duravam cerca de quinze dias, e depois foram cristianizadas como "a Festa da Colheita".

Fontes: Grimoire
                Wicca: A Religião da Deusa
                Ritos e Mistérios da Bruxaria Moderna
                Guia Prático da Wicca
                A Dança Cósmica das Feiticeiras
                O Livro das Sombras de Scott Cunnigham
Wicca Essencial
O Livro da Mitologia Celta

Iemanjar

 Iemanjar

“Venha com as suas preocupações
Venha com os seus lamentos
Venha quando a vida é alegre
Venha quando a vida a massacra
Venha até quando assumir responsabilidades
Venha quando quiser abraçar o mundo com as mãos
Venha quando estiver esgotada
Venha quando buscar renovação
Tudo o que pedirei quando você vier
É que se entregue a mim
Mãe oceano
O meu útero aquático espera para acolhê-la
Deixa-la nascer outra vez
Quando você se render e entregar.”

Iemanjá, cujo real nome e Iyemojá, é a Deusa yorubá dos mares. Na África, contudo, seu culto esta intimamente ligado aos rios que correm para o mar.
A raiz de seu nome vem de Yeye Omo Eja, que significa "A Mãe dos filhos peixes". É considerada a mãe de todos os Orixas e foi casada com Oxalá. É filha de Olokun, 0 Rei dos Oceanos e em alguns mitos figura como a esposa de Olofin, rei de lfé.
É uma Deusa do povo Egba, uma das nações estabelecidas onde antigamente se situava lfé e lbadan, onde existe 0 rio Iyemojá. Quando 0 povo Egbá migrou em direção a Abeokutá, levaram 0 culto a Iemanjá consigo e o rio Ogun, que atravessava a região, passou a ser a nova morada da Deusa.
Suas ligaçõees com as águas, tanto doces quanto salgadas, são muitas. As lendas contam que ela era casada com Olofin e que com ele teve dez filhos. Amamentou todos eles e por isso seus seios tomaram altas proporções. Este foi 0 motivo dos desentendimentos do casal, mesmo ela tendo prevenido a Olofin de que jamais toleraria que ele ridicularizasse seus seios. Numa noite, ele se embriagou e fez vários comentários deselegantes sobre o tamanho dos seios de Iemanjá. Enfurecida, ela fugiu em direção ao oeste e foi morar em Abeokutá, levando um pote magico, que ganhara anos atrás de seu pai Olokun. Olofin enviou todo 0 seu exército para resgatar Iemanjá, ate conseguirem cerca-la. Em vez de se deixar prender e ser conduzida a lfé, ela quebrou seu pote magico e um rio criou-se na mesma hora aos seus pés, levando-a para 0 fundo do oceano, conduzindo-a para a morada segura de seu pai.
Outra lenda conta que quando Obatalá se casou com Oduduwá eles tiveram dois filhos: Iemanjá (0 mar) e Aganju (a terra). Iemanjá e Aganju se casaram e tiveram um filho, Orungã (0 ar). Quando Orungã cresceu, apaixonou-se pela mãe, e um dia aproveitando a ausência de Aganju, decidiu violenta-la. Ela tentava fugir quando Orungã quase conseguiu alcança-lá. Iemanjá caiu no chão e seu corpo começou a crescer. Seus seios romperam e se tornaram dois grandes rios, que formaram os mares, e de seu ventre saíram dezesseis orixás: Exu, Ogum, Xangô, Oyá, Ossâim, Oxóssi, Obá, Oxum, Dadá, Ewá, Olosá, Okô, Okê, Ajê Xalugá, Orum e Oxupá.
Segundo algumas versões de seus mitos, de sua união com Oxalá nasceram Ogun, Exu, Oxóssi e Xangô. Ogun presenteou os homens com a evolução do mundo, já que ele era 0 Senhor da Forja, dos trabalhos com ferro. Foi ele que possibilitou a evolução da humanidade e 0 aperfeiçoamento de suas técnicas na caça, na arquitetura, no transporte. Exu é 0 mensageiro dos Orixas, a mola propulsora que faz todas as coisas se manterem vivas, a energia vital. Oxóssi é 0 Senhor da Caça, aquele que alimenta a tribo, distribuindo a fartura e a abundância. Xangô trouxe 0 sentido de justiça, fazendo os homens se organizarem. Como podemos perceber, foi pelas criações de Iemanjá que chegamos a ser 0 que hoje somos. Mas como ocorre com toda mãe, seus filhos tiveram que partir para suas conquistas individuais e urn dia eles se afastaram dela.
Iemanjá é um orixá da fertilidade. Ela é a mãe de todas as cabeças e por isso ocupa posição principal no rito de Obori, uma cerimônia africana que visa fortalecer a cabeça, 0 centro do poder humano. É ela quem dá 0 equilíbrio necessário para que todos nós possamos lidar com nossas emoções e desejos. Tem como função cuidar de todo ser humano a partir do momento em que ele aprende a andar e falar ate 0 fim de sua vida. É responsável pelo aprendizado, pela cultura e pelo processo de entendimento de nosso papel como seres humanos, quem verdadeiramente somos.
É segura mente uma Deusa muito antiga, pois esta relacionada ao mar, 0 inicio do mundo. Os seus peixes simbolizam 0 embrião e as infinitas possibilidades da água que gera.
Um de seus principais instrumentos mágicos é 0 abebé, um leque rdondo, que simboliza os poderes de fecundidade, mas ela também é uma Deusa Guerreira e por isso porta uma espada que separa e multiplica os seres, permitindo 0 nascimento de seres humanos únicos, com características únicas e intransferíveis. Suas danças sagradas imitam 0 movimento das ondas do mar trazendo à tona as aspectos da fluidez e constante renovação. Simboliza a grande força geradora feminina, o principio de tudo. Iemanjá é tanto o mar que alimenta quanto o que devora. Está associada a profundeza do inconsciente e tudo a que e cíclico.

Correspondências

·        Invoque Iemanjá para: fertilidade, amor, fluidez, maternidade, geração, inicio, proteção, viagens, limpeza, mente clara
·        Símbolos: leque, espada, cabaça, peixes, conchas, estrela do mar
·        Dia: sábado
·        Cores: prateado, transparente, branco e azul-claro
·        Aroma: alfazema
·        Conectando-se com Iemanjá: Pegue uma estrela-do-mar e deixe-a exposta a luz da Lua Cheia, tendo o cuidado de recolhe-la antes de a Sol nascer. Depois disso respingue água e sal na estrela, representando as águas do mar, e diga: "Iemanjá, Senhora do Mar, Criadora da cultura, Deusa da Fertilidade e da Renovação, abençoe este símbolo para trazer proteção, fartura e paz ao meu lar.
Que assim seja e que assim se faça!"
Agora respingue algumas gotas de óleo de alfazema na estrela-do-mar e em seguida pendure-a sabre sua porta de entrada. Assim, todo a seu lar estará protegido e livre das energias negativas.
Meditação: o ideal é fazer esta meditação na praia ou em outra corrente de agua, mas se não puder pode fazer em casa mesmo!
Prepare-se ficando centrada e relaxada. Respire fundo e leve sua consciência para o útero. Quando estiver pronta, visualize-se entrando na água corrente devagar e com reverencia, enquanto pede a Iemanjá que venha encontra-la.
Sinta Iemanjá acercando-se, acolhendo você. Abandone-se ao seu abraço; sinta totalmente 0 abraço de Iemanjá rendendo-se fisicamente a ela, ou pode entregar a ela apenas um aspecto da sua vida no qual precisa de ajuda. Você precisa de assistência nas finanças ou na vida amorosa, ou na procura de emprego ou de moradia, enfim entregue aquilo que precisa da bênção da Deusa.
Enquanto você flutua a água lava todo seu corpo, e Iemanjá a alivia de todos os fardos que você carrega. Deixe-a tirá-los de você. Concorde em entregá-los. Visualize-se, sinta-se ou perceba-se entregando-os com alívio e com a certeza de que ela tomará conta de tudo. Abandone-se a imensidão do mar.
Quando estiver pronta para voltar, agradeça a Iemanjá por estes momentos com ela. Então volte a praia, sentindo-se mais leve, viva e purificada. Seja bem-vinda!


Fontes: Todas as Deusas do Mundo
              O Oráculo da Deusa

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Hécate - A Sombria Amante da Alma



Hécate - A Sombria Amante da Alma

“A Deusa Negra é, até agora, pouca coisa mais do que uma palavra de esperança murmurada entre os poucos que serviram seus aprendizados à Deusa Branca - ela levará homem de volta àquele instinto certeiro de amor que há muito tempo se perdeu por orgulho intelectual…” (Robert Graves)

Quem é essa presença magnética e que forças nos compelem a segui-la? Ambas, a história e a mitologia demonstram uma tradição discernível de initiatrix feminina. Uma linha tênue liga os Mistérios da sabedoria antiga à Europa Cristã medieval, no florescer do Renascimento literário o domínio dos poetas de século XII, cujas metáforas poderosas e alegorias prevaleceram como uma conjunção esotérica e erótica entre a mídia ortodoxa medieval. Dentro do culto gnóstico da Virgem Negra no sul da França medieval, ela é por vezes chamada de "A Notre Dame de Lumiere"; e isso é sugerido por Peter Redgrove (1989:134) como sendo em igual extensão à Deusa Negra, Mary Lucifer, a doadora-da-luz - Madalena, cujo símbolo é a rosa, e a rosa também é a flor de Vênus, cuja total florescência exemplifica amor sagrado/secreto. Mas ela também representa a sabedoria esotérica dos mistérios femininos, a ambos, carnal e religioso. Essa informação "sub-rosa" era revelada somente aos iniciados que buscavam esclarecimento e gnose.

Poeticamente, Redgrove descreve as engrenagens esotéricas em jogo por trás do disfarce do gênero conhecido como 'o amor cortês'; como a energia sexual radiada dos olhos do amado, fundindo no corpo sutil do amante, iluminando e elevando o espírito (ibid). Lembrando que os olhos são as janelas para a alma, esta emanação de 'luz' - o poder psíquico da alma - mais adiante é explicada como segue: “... O invisível assim se torna sensível pela operação de espíritos dependentes do funcionamento fisiológico do corpo”.(ibid). Tal preliminar intelectual induziu à radiação dos kalas(1) que explodiram em ondas miasmáticas de pneuma orgasmos(2), secreções somáticas absorvidas e transformadas nos atos de comunhão. Redgrove (1989:48) expressa essa força da Deusa Negra como “a luz negra se dobrando como os loa, tecendo sua teia ao redor de tudo que está dentro de seu aperto, ela é a luz da revelação dentro da escuridão.” Estas poderosas palavras evocativas sugerem o papel de 'Destino', cujos processos alquímicos maithunic(3) eram movidos pelas mulheres que operam sob o papel tradicional de hierodule ou initiatrix sexual, mas a quem elas estavam representando?

A Virgem Negra era um símbolo da alma, um portal no supraconsciente, a encruzilhada dos sentidos. Como prostituta e deusa escura, ela guia os mistérios da morte e renascimento, revelando o seu conhecimento herético da menstruação e magia Kundalini; sua sabedoria serpentina, explorada nos reinos dos sonhos onde as experiências reveladoras são de maravilhar (Redgrove 1989:136-38). Estas imagens evidenciam uma deusa de longe mais velha, mais antiga. A Madonna Negra na catedral de Chartres na França é conhecida como Notre Dame de Souterrain, ou 'Nossa senhora do Subterrâneo' (Picknett & Prince: 1197:151). Talvez nossa primeira dica de Hecate? Maria é constantemente retratada como uma fiandeira, fazendo alusão ao seu papel como a senhora do destino - outro papel mais tradicionalmente atribuído a Hecate.


Redgrove (1989:115-120) apóia a Deusa Negra como a mulher primal, uma deusa primal, uma Rainha de Encantamentos, de Magia negra e todas as coisas ocultas; seu esplendor oculto é a inspiração de poetas e reis. Mais adiante, ele posiciona esta Deusa Negra como cognata ao Espírito Santo, Sabedoria - a amante Abisag de Sunam do Rei Salomão... "Foi Eu quem cobriu a Terra como uma névoa. Sozinha eu fiz um circuito do céu e atravessei as profundezas do abismo... Quem de mim se alimenta ficará com fome de mais, e quem de mim bebe terá sede de mais..." (Ibid). Redgrove a percebe como um succubus, assombrando o mundo dos sonhos noturnos - os reinos de Hecate, a remetente dos sonhos. Todos os aspectos da Deusa são explicados por Redgrove (1989:117) como psico-erótico, multifacetado, subliminal e físico de uma só vez. Além disso, como uma forma de sabedoria, ele vê a deusa negra Hecate como a luz radiante - a chama escura, dama-estrela e portal para outros mundos (1989:138). Ainda mais interessante, ele a assume como Maria-Lúcifer, a lumen naturae, a illuminatrix da alma (ibid:156) Mas, será que podemos substanciar essa fenomenal suposição? Sim, nós podemos. Mitologias históricas fornecem material de origem relevante, sobre o qual o leitor é encorajado a tecer suas próprias conclusões.

Dentro dos Mistérios Órficos, Nyx, um negro espírito alado, levantou-se do Vazio do Kaos para deitar o ovo cósmico de prata contendo o dourado espírito alado do amor, Eros - também conhecido como Phanes o Revelador, cuja beleza radiante iluminou a Terra. Nyx, a Mãe Noite primal, dentro de seu reino estrelado também deu à luz as Fates (Destinos), as Hesperides, as Fúrias e Nêmesis (George 1992:112-117). Como a mitologia evoluiu, a precedência era classificada como dia e luz; todas as coisas sinônimas à noite escura ficaram exiladas ao chthonic (de 'khthonios' - dentro ou fora da Terra), isto é: fertilidade, parto, abundância, colheitas, destino e morte, reino do submundo, regiões astrais, o mundo dos sonhos, e a psique interna. Com efeito, Hecate se desenvolveu como a guardiã desses lugares sombrios e solitários, e de seus inerentes Mistérios ocultos. Atos obscuros do mistério sexual, Kundalini, profecia, inspiração e adivinhação, todos vieram de dentro de seu dom. Criaturas da noite - corujas, cachorros e cavalos se tornaram seus totens, assim como o fizeram todas as criaturas do submundo aquático - cobras, serpentes, aranhas, sapos e rãs. (Ibid) Como Dama da Transe-Formação, sua luz divina de gnose é secretada por seus poderes chthonicos de vida e morte; sua sexualidade voraz leva suas vítimas em um abraço profético de regeneração. Suas sacerdotisas legendárias levavam os agonizantes através de uma morte extática pelas suas convulsões orgásticas (George 1992:111).

Ultimamente ligada à lua negra, anteriormente Hecate sempre havia sido a deusa da iluminação da alma. Tempo e destino estão dentro de seu domínio; muitos de seus epítetos revelam seus inúmeros papéis e formas - Sábia, Rainha das Sombras, Senhora da Iniciação, Guardiã do Portal, Condutora de Almas, e A Brilhante (www.hecate.org.uk/history.html). Para os místicos, a Noite Escura é a profundeza do amor (Eros) e luz (Phanes). George (1992: 118) afirma que dentro filosofia Oriental o preto representa o estado informe da matéria pura e um todo unificado, sem nenhuma separação. Isso é um truísmo refletido dentro da Nyx grega e a Nut egípcia, ambas carregam a mensagem eterna da matrix universal como uma expressão do verdadeiro amor (sabedoria e compreensão/compaixão), da qual a ignorância induz ao medo e vazio.

Waterson (1999:190) recebeu muitas críticas dos acadêmicos por promover a idéia de que Hecate é derivada de Hekt, uma deusa egípcia de cabeça de sapo, deusa do nascimento, morte e ressurreição, parteira dos deuses, mas sua teoria é merecedora de uma melhor inspeção. Esta deusa primal criativa parece ter ajudado Osíris a se levantar dos mortos, precedendo o papel adotado por Ísis. Além disso, seu símbolo, o sapo, foi mais adiante adotado pelos Cristãos para representar a ressurreição de Cristo. Foram encontrados em numerosas luminárias cerâmicas com a inscrição: “Eu sou a ressurreição”. O eminente egiptólogo Wallis Budge (1971:63) explica que dentre os ritos fúnebres egípcios, o amuleto de sapo (juntamente com o escaravelho) era colocado sobre a múmia, para mostrar o poder de ressurreição de Hekt sobre o mesmo.

Mais tarde a mitologia grega revelou que Hecate, assim como Lucifer/Lux (luz) nasce de Nyx/Nox (escuridão). Bem antes disso, contudo, ela era originalmente uma deidade da Trácia e foi adotada no panteão grego como uma Titã, uma deidade pré-olímpica. Ela era descrita como uma bonita donzela com cabelos adornados por estrelas que iluminavam as trevas. Sua tocha em chamas revelava seu papel como illuminatrix e Condutora (a que guia os mortos) através de seus três reinos - os Céus, Terra e os Mares/Mundo Subterrâneo. Como já demonstrado, somente mais tarde, quando foi consignada ao Inferno, ela assumiu o papel mais sinistro de tomadora de almas. Curiosamente seu dia de festa é 13 de agosto, como uma deusa de fertilidade, e é um dia em que ela é propícia a evitar desastres que acontecem às colheitas. É notavelmente perto de 15 de agosto, quando acontece a festa da Santa Virgem Maria, a qual mais tarde assumiu essa função!

Em cada uma de suas quatro mãos (às vezes seis), Hecate maneja um objeto; uma chave que destranca os mistérios ocultos e a sabedoria da vida após a morte; uma corda/flagelo que representa tanto o cordão umbilical (permitindo nascimento) e o laço (morte); e a adaga, o símbolo da verdadeira vontade, que corta a ilusão e divide a corda (permitindo o nascimento) e o laço (facilitando a libertação da alma). Em sua quarta mão (nesta ou ainda nas três restantes) ela eleva a tocha (ou tochas) de iluminação e iniciação. Assim pode-se ver que ela preenche todos os papéis de Creatrix, Illuminatrix e Initiatrix - a (verdadeira) Deusa Tripla (de tripla face) (George 1992:142-45).

Tanto Hecate quanto Hermes compartilham o papel de "Condutor de Almas" e "Protetor das Encruzilhadas" e caminhos secretos dos planos mentais e físicos. Hermes freqüentemente se posta de pé ao lado de Hectarea, uma forma tríplice de Hecate, completa com suas três cabeças e seis braços. Acredita-se que sejam amantes ou companheiros, e eles são curandeiros, protetores da energia lunar e arautos da morte. Fazendo a ponte entre os mundos, eles revelam o passado, presente e futuro simultaneamente, conferindo visões proféticas e comunicação ancestral. De seu mundo crepuscular de ilusões, seus dons de encantamento asseguram o arrebatamento e ventura de seus devotos.


Outro epíteto bem menos conhecido é Hekatos, que significa “A Distante” (a Magia transportada através do ar que atinge seu objetivo), o qual Hecate, como uma forma de Ártemis, divide com Apolo. As lendas também falam dela como um anjo fosforescente, brilhando nas trevas do submundo, onde sua luz hipnótica de transe-formação é revelada dentro dos montes de terra dos sepulcros decadentes dos mortos. Aqui se encontram suas fusões de papel com os de Perséfone e de Deméter, com a qual ela ficou associada dentro de mitos alternativos gregos. Deve ser lembrado que os gregos sempre viram Hecate como uma jovem donzela. Ela se tornou uma velha somente para os Romanos (que julgaram seus papéis conectados aos assuntos de sangue feminino - nascimento e menstruação - como impuros) quando Ártemis e Se1ene a suplantaram nesta forma (ibid). Martha Ann e Dorothy Myers-Imel (1993:157) também nos fazem lembrar, dentro dos Mistérios Eleusianos, o papel de Brimo (a Destruidora Terrível da vida) que dá a luz a Brimos (o Salvador) Ela é associada com Cybele, Deméter, Perséfone e Hecate e é também a guia Perséfone quando ela volta para o mundo da superfície, ao chegar do Inferno de Hades. Ainda assim é Phosphorous - aurora e crepúsculo, mãe e guardiã, a que traz a aurora da vida, nascimento e morte. Ela é a Estrela Matutina, a portadora da Gnose, a 'propylia' - aquela que fica diante do portal, e 'propolos' - a guardiã do limite e condutora, a líder do caminho (Robert von Rudolf, Horned Owl Library).

O mundo obscuro dos sonhos é onde George (1992:148) acredita que nós estejamos encapsulados, dentro do seio nutritício de Hecate; isolados do tempo e espaço, suspensos no tempo liminar, nós alcançamos um "ponto silencioso" (uma praxis mágica de não-ser). Este nosso momento de "nos tornarmos" é onde ela está, a verdadeira Dama do nosso destino. Nossa submissão total a ela traz as recompensas da verdadeira gnose. Hecate guia o peregrino verdadeiro, Hecate abençoa a criança recém nascida, e Hecate protege e guia a alma em sua jornada final. Lembre-se, esta bela e jovem fada-madrinha usa uma coroa de estrelas. É notado que os devotos dos Oráculos Caldeus planejaram promovê-la como Sortieria (Salvadora), uma deidade celeste e princípio cosmológico da alma cósmica, não diferentemente da 'alma mundial' dos Neo-Platonistas (Robert von Rudolf). Na Ásia Menor, por volta de 800 a.C., Hecate fazia parte da trindade de Cybele, da Mãe, Filha e Filho como Hecate e Hermes. Ainda por volta de 400 d.C. seus papéis se desenvolveram como a sombria e sinistra espreitadora de cemitérios, perscrutadora de almas, Rainha da Bruxaria e Feitiçaria, a patronesse de Circe e Medeia (ibid). Os Romanos a transformaram, aliando-a com Diana Triformus, e uma vez mais, compartilhada com Proserpina (Perséfone).

Picknett e Prince (1997: 85) relatam como Madalena é a forma por trás da Virgem/Madonna Negra e como um arcebispo dominicano se refere à ela como ambos, illuminati (A iluminada) e illuminatrix, papéis que lhe foram atribuídos dentro do Gnosticismo. Lendas afirmam que no final de sua vida ela vivia em uma caverna no Sul da França, previamente usada como foco de adoração a Diana Lucifera (a Illuminatrix). A discutível sociedade secreta conhecida como o Priorado de Sião também venera a Madonna Negra como a Notre Dame de Lumiere ou 'Nossa senhora da Luz ' (ibid: 101). Eles também insinuam seu papel como o de uma sacerdotisa de Isis, uma hierodule sagrada e initiatrix dos Mistérios - mas espere, Isis não está fora de lugar aqui? Essa associação não devia ser com Hecate? Picknett e Prince (111) vão adiante ao relatar como nos Pirineus, na catedral de St. Betrand-de-Commings, existe uma escultura que representa uma mulher alada e com pés de pássaro, dando luz a uma figura dionisíaca, com reminiscências ao Green Man. A mãe desta figura luciferiana é sugerida como sendo Lilith, e pode mesmo o ser. Mas lembre-se que assim como Hecate, Brimo deu à luz a Brimos, o salvador. Também é notável que lendas abundam dentro da região da Senhora Herodias, a líder da noite, megeras e bruxas. Herodias é um freqüente pseudônimo de Hecate, que compartilha dos mesmos totens, os animais noturnos. Além disso, pesquisadores franceses ligam Pedaque, a Rainha das Bruxas de pés de ganso à “'Rainha de Céu” - e assim, por uma associação moderna, à Isis. Contudo esse título é um epíteto mais antigo de Hecate, e os pés de pássaro trazem à mente outra rainha associada com sabedoria e gnose: Sheba, a sacerdotisa Abisag de Sunam do Rei Salomão.


Nos textos de Nag Hammadi, do Pistis Sophia ou Virgin of Light, Madalena é fortemente associada com Sophia, a companheira de Deus - que é tanto a Palavra como a Sabedoria. Os estudiosos agora acreditam que os fortes elementos de erotismo prevalecentes entre os textos revelam a natureza verdadeira dessa relação. As serpentes sempre denotaram sabedoria e estas também são totens de Hecate (Picknett & Prince 1997: 142-43): Sophia é a juíza dos mortos, ainda outro papel muito mais atribuído à Hecate do que à Isis. Além disso, foram os Cristãos Gnósticos (romanos) que identificaram Sophia com Isis. De seus pontos de vista cultural, Isis se tornou a predominante "Rainha do Céu", usurpando várias pretendentes mais antigas à este título. A imagem de Isis amamentando o jovem Horus adquiriu por preempção a imagem da Madonna e sua Criança, adotada mais tarde pelos iconógrafos Cristãos. Para os Romanos, Isis representava mais do que eles percebiam que fosse a Mãe Universal, divorciada da morte e de todas as matérias impuras. Os romanos espalharam a popularidade de Isis ao longo do seu império. Antes disso ela havia sido uma das várias deidades egípcias femininas e menos importantes do que Nut, Neith, Maat e Hathor. Enquanto sua popularidade cresceu, a de Hecate minguou. Assim denegrida como a Senhora da Bruxaria e Feitiçaria ela se imortalizou, despojada de seu verdadeiro lugar dentro da mídia popular e pública. Mas, em todo o sentido da palavra, Hecate foi ao Inferno, onde seus mistérios continuaram a ser apreciados por todos aqueles que conheceram suas verdadeiras origens.

Disfarçada como Sophia, seu papel como salvadora dentro dos reinos obscuros de filosofia afetaram profundamente os eruditos, alertas às suas verdadeiras formas de illuminatrix e initiatrix. Um estudioso medieval em particular reporta sua experiência tumultuosa com ela em trabalho seminal de Gerhard Wehr, The Mystical Marriage (1990:77) “... Logo depois de várias tempestades sentimentais, meu espírito atravessou os portões do Inferno para a divindade nascida dentro de mim, e eu estava cercado por amor como uma noiva querida é abraçada pelo seu noivo. Sobre o que é esse triunfo espiritual é algo que eu não posso escrever ou falar. Não pode ser comparado com qualquer coisa exceto receber a vida em meio à morte, realmente era como vida para alguém que se levanta dos mortos”. Palavras proféticas, realmente, e aqueles que experimentaram tal envolvente elevação sentirão facilmente uma empatia. Ainda além da beleza e filosofia da nobre Sophia, é Sophia Prounicos a prostituta gratuita - e somente a partir dela a sabedoria é completamente alcançada, uma fusão total do espírito magicamente transposto via ato sexual, o sacramento definitivo, uma transe-formação completa de mente, corpo e espírito, iluminação e completa gnose - o dom de Hecate, A Dama do "Caminho".

Picknett e Prince (1997:338-39) explicam como Maria de Betânia untou os pés e cabelos de Jesus com óleo aromático; um ritual realizado somente por uma hierodule, uma sacerdotisa que através desse ato proclama a “realeza” de Jesus. Sua soberania sagrada é executada pelos ritos de “horasis” (toque divino), ou orgasmo de corpo inteiro, facilitado somente através do sexo sagrado. Novamente, esses ritos sagrados eram realizados dentro de todas as antigas escolas de Mistérios antigos pelas hierodules ao fazer Osíris o rei, assim como Tammuz e Dionísio. Assim a prostituta se torna santa e o rei, divino. Esse ato sagrado permite à completa e definitiva deusa (Hecate) se manifestar. Neste caso dentro de Madalena, não como uma sacerdotisa de Isis, mas de Hecate. Ela é a Cara Amada, a Madonna Negra - a deusa escura e terrível. Ao longo do tempo sua Magia seduziu, destruiu e reanimou todos os que sucumbem ao seu abraço. Picknett e Prince (1997:430) enfatizam que a Deusa Mandeana (seita gnóstica) Ruha, regente dos reinos das trevas, também é vista como o Espírito santo.

Outros escritores de esoterismo reconheceram, há tempos, que o mundo oculto de Hecate existe além dos níveis superficiais apresentados pelas mitologias populares sobre ela. Ela é a dama da Magia psico-sexual, saltando entre os reinos e planos, transformando-se entre as sutilezas da carne e espírito. Grant (1996:173) descreve seu papel como a dama dos reinos da verdadeira Bruxa, aquela que pode atravessar dimensões alternativas. Sua corrente lunar ofidiana oferece uma renovação mágica da qual germina o culto Draconiano. Além disso, Grant revela Nyx/Nox como sendo a chave para o Abismo, a guardiã do Primeiro Portal dentro de Da'ath, a ponte entre mente e corpo, o lugar de transe-formação, e o lugar onde a gnose é alcançada. Essa ponte, quando ativada por práticas de ioga (tântrica), estimula e sensibiliza a pele, órgãos e olfato, emitindo kalas de luz negra, pelas quais todas outras luzes são iluminadas. Hecate é a initiatrix sexual definitiva, a mortalha de mistério e conhecimento. Ela é a Senhora da Sabedoria, o Dama Estelar e o Portal para os Outros Mundos, a quem Redgrove (1989:120) nomeia como 'Aimah Elohim Shekinah' (A Noiva de Deus ou os Deuses).

E é então que as sacerdotisas de Hecate representavam seus papéis iniciáticos, de Condutoras de Almas de Mar-Ishtar até Madalena e além. Quando a transfiguração está completa, o regresso do planalto de Hecate traz Charis, Karuna e Samadhi - beleza, compaixão e paz (Redgrove 1989: 125-26) Para os Gnósticos, Charis - a Redentora era o nome para o Cristo feminino, cuja eucaristia de sangue menstrual precedeu a do Cristo. (Ibid: 128) Novamente, é Hecate que é dama de todos os assuntos relacionados à menstruação, fertilidade, parto e morte. Hoje em dia, dentro das práticas de Ioga Tântrica e em algumas formas de Bruxaria Tradicional, as sacerdotisas continuam a adotar o papel de hierodule, canalizando Charis ao tocar a Magia “realizada dentro do círculo, que produz um sonho vívido sobre a pele e é uma entrada no astral pelo ato do toque divino” (Ibid). O dom da initiatrix é a sínese em que o teatro negro da mente se torna um receptáculo de luz, preenchendo o vácuo criado pelo ego deprimido e depurado.

Redgrove (1989:156) declara que Hecate é Maria-Lúcifer, o 'lumen naturae', a radiante escuridão e iluminadora da alma. Hecate de três faces, a Dama da Psique, que fica na encruzilhada de nosso inconsciente olhando as idas e voltas dentro de nossas vidas. Suas funções cumprem um paradoxo de critérios; de cura, de destruição, de sabedoria, de demência e de vida e morte (George 1992:145-47). Aqui, neste labirinto mental, nós enfrentamos nossos demônios, nossas subversões negativas. Aqui ela nos desnuda de nossas ilusões, eliminando todas as facetas que negam nossa inteireza. Ao amá-la estamos amamos a nós mesmos... A revelação da Gnose verdadeira é a realização da Divindade inerente de si próprio.

Nenhuma forma definitiva de Hecate existe, e representações espaciais dela refletem somente as necessidades do momento; assim ela permanece como a Deusa Negra definitiva, a serpente primitiva da iluminação cósmica, papel que ela compartilha com Lúcifer, o portador da luz. Juntos eles são os seres gêmeos de Phosphorous, os portadores da tocha da verdadeira gnose.


1) Kalas - Estrela, perfume, essência, ungüento, etc. É a fonte de Kali, deusa do Tempo. Em Tantra refere-se especificamente às vibrações vaginais trazidas pela intensificação de procedimentos rituais durante a realização dos ritos Kaula. Vibração de natureza lunar. (Fonte de referência: Aleister Crowley and the Hidden God, Kenneth Grant, Skoob Books Publishing).


2) Pneuma orgasmos - orgasmos espirituais, pneuma refere-se à centelha divina, intelecto divino.


3) Maithunic - de Maithun, cópula, união, congresso. No Tantra é literalmente a cópula, tanto simbólica quanto a real. Maithuna é um dos cinco Makaras.(Fonte de referência: Aleister Crowley and the Hidden God, Kenneth Grant, Skoob Books Publishing).

Bibliografia:

Goddess in World Mythology, M.A. & D. Myers-Imel (Oxford University Press 1993);
Mysteries of the Dark Moon, Demetra George (HarperCollins USA 1992);
Nightside of Eden, Kenneth Grant (Skoob Publishing 1996);
The Templar Revelation, Lynn Picknett & Clive Prince (Corgi 1997);
The Black Goddess and the Sixth Sense, P.Redgrove (Paladin 1989);
Horned Owl Library, R. von Rudolf (www.islandnet.com/~hornowl/libray/Hekate.html); Egyptian Magick, E.A.Wallis Budge (Dover Publications USA 1971);
Gods of Ancient Egypt, Barbara Watterson (Branley Books 1999);
The Mystical Marriage, G. Wehr (Aquarian Press 1990) e www.hecate.org.uk/history.html.



Fonte: Por Shani Oates - Dama do Clan of Tubal Cain
Publicado originalmente na revista The Cauldron
Primavera de 2004

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Rituais Simples para o Dia-a-Dia

Rituais Simples para o Dia-a-Dia


Ser bruxa(o) é um modo de vida. Não é simplesmente realizarmos rituais no dia dos sabbats e na Lua Cheia, somente. Para ser um(a) bruxo(a), você deve viver como uma, então a conexão com as divindades é permanente e ocorre todo o tempo.

Aqui, apresentamos um pequeno compêndio de atividades que podem ser realizadas no seu cotidiano, facilitando a sua conexão com os Deuses. É claro que são apenas sugestões e as formas de se fazer isso são infinitas, postareis mais coisas sobre o assunto em breve.
- Uma boa maneira de limpar o seu altar é lavando seus cristais, deixando-os submersos em água de chuva, fonte ou mesmo água comum com algumas gotas de limão e sete gotas de essência de eucalipto ou pinheiro. Depois exponha-os à luz do sol ou da lua, defume-os com incenso de sálvia ou mirra. Medite a respeito da arrumação de seu altar e troque ou acrescente tudo o que for necessário.

- Você pode organizar um altar para se conectar ao deus Pan, reverenciando-o em si (se você for homem) ou em seu parceiro (se você for mulher). Prepare um altar com pinhas, chifres ou cascos de animais, galhos de pinheiros e cachos de uvas. Queime incenso de almíscar, acenda uma vela verde, brinde com vinho e dance ao som de flautas.

- Quando for limpar a casa, faça como nossos ancestrais, arejando roupas e calçados, espanando as teias da estagnação e a poeira do passado. Arrume seus armários, desfazendo-se do que não usa mais. Abençoe seus utensílios de limpeza (vassouras, espanadores, aspirador, baldes) para que possam limpar não só a sujeira física, como também a astral. Finalize com uma oração para sua própria limpeza psíquica e energética.

- A runa Ingwaz é o facho de luz que ilumina e abre um novo caminho. Mentalize-a, ao nascer do sol. Veja-a como um portal de entrada para a luz, abrindo uma nova fase em seu desenvolvimento pessoal e crescimento espiritual. Projete nesse portal o seu projeto ou objetivo, iluminado e renovado pela luz solar. Assuma um novo compromisso para consigo mesma e peça ajuda à luz maior para cumprir com sua responsabilidade.

- Quando tiver que enfrentar algum desafio em algum dia, medite e procure visualizar a deusa celta Maeve, com seu cabelo ruivo e uma tiara e segurando nas mãos uma espada e um escudo. Pergunte aos seus pássaros mensageiros o que precisa combater em sua vida e como fazer isso.

- Dedique-se a si mesma em um dia de primavera. Enfeite a sua casa com flores, acenda velas vermelhas e incenso de rosas no seu quarto ou banheiro. Tome um banho revigorante com essência de rosas ou jasmim e vista uma roupa rosa ou vermelha. Realce sua beleza da forma que está acostumada e medite um pouco, invocando a energia do amor para a sua vida. Depois saia para se divertir, sozinha ou acompanhada.

- Antigamente, as mulheres limpavam e enfeitavam as fontes com guirlandas de flores e fitas, em Roma. reverencie vôcê também os espíritos e as deusas das águas. Procure um local onde haja uma fonte, rio, lago, mar ou cachoeira. Sente-se confortavelmente e contemple a superfície da água até atingir um estado profundo de relaxamento. Conecte-se aos espíritos e às deusas da água, dizendo-lhes quais são seus problemas ou suas dúvidas. Aguarde até perceber alguma imagem ou mensagem refletida na água. Agradeça oferecendo-lhes flores, perfume ou moedas. Leve um pouco dessa água para purificar seus cristais e outros objetos de seu altar.

- Conecte-se á força das árvores abraçando uma, fundindo-se com seus galhos e raízes, recebendo seu vigor. Deixe uma oferenda como uma moeda, fitas coloridas em laço, frutas ou um pouco de cereal. Neste dia, plante uma árvore ou uma planta e responsabilize-se por cuidar dela. Procure sensibilizar outras pessoas para proteger e evitar a destruição das florestas e matas.

- Escolha um símbolo pessoal (mandalas, ferradura, alho, figas, runas) e coloque-os nas portas e janelas como proteção, invocando seus guardiães espirituais.

- Inicie um calendário menstrual, observando a relação do seu período mensal com a fase da Lua. Quanto mais você se afinar com as energias lunares, mais seu ciclo menstrual se tornará regular e harmônico.

- Prepare uma bebida para atrair abundância e boa sorte para a sua vida. Bata no liquidificador leite com estes setes ingredientes: nozes, damascos, côco ralado, maçãs, amêndoas, aveia e mel. Reúna um grupo de amigas e façam um pequeno ritual, queimando incenso de lírio e acendendo sete velas brancas, pedindo a ajuda da deusa Anna Perenna em suas vidas. Compartilhem da bebida e ofereçam um pouco para a Deusa, junto com um pedaço de pão fresco e alguns lírios brancos, perto de um canteiro com flores brancas.

- Crie um ambiente favorável com música, velas e incensos e medite, abrindo o seu coração e pedindo à Deusa alguma imagem ou mensagem para a sua fase atual, orando para o seu fortalecimendo interior e crescimento espiritual. Termine agradecendo pela luz e o amor de sua presença.

- Para homenagear a deusa Cerridwen, queime verbena em seu caldeirão, acenda uma vela verde e amarre uma fita verde em uma árvore frutífera. Faça uma pequena visualização, transportando-se, mentalmente, para a sua morada. Peça-lhe um gole de seu caldeirão mágico e a bênçãos para suas atividades ou projetos criativos.

- Faça um pequeno ritual para homenagear as fadas. Vista-se de verde, acenda uma vela verde e um incenso de flores, enfeite seu altar com flores silvestres e folhas verdes e coloque uma música com flautas. Ofereça-lhes um cálice com vinho, brindando antes para a deusa Aine. Agradeça as energias benéficas das fadas na manutenção da vegetação e peça-lhes que protejam sua propriedade, suas plantas e seus animais. Comunique-se mentalmente com elas, procurando perceber sua manifestação. depois leve uma oferenda de flores e vinho para algum bosque, amarrando uma fita verde em alguma árvore.

- Acorde cedo e faça uma prática de revitalização e harmonização. Saúde o sol direcionando seus primeiros raios para os seus centos de poder no corpo. Ore por sua saúde e vigor físicos. Visualize algum novo projeto ou desejo sendo iluminado e favorecido pelas energias cósmicas do céu e do sol, materializando-se na Terra. Desperte o fogo que existe em você e enfrente de maneira corajosa as nuvens escuras e os inimigos.

- Conecte-se ao seu guardião, reverenciando-o de acordo com sua fé e conhecimentos. Peça-lhe proteção, abertura de caminhos e força para vender os obstáculos de sua vida. Consulte algum oráculo para uma orientação específica ou prepare alguma defesa para si como um talismã, patuá, amuleto ou runa de proteção.

- Honre as deusas dos grãos fazendo um bolo ou pão. Coloque enfeites de espiga de milho e trigo e faça uma oração de agradecimento pelo seu sustento. Agradeça à Mãe Terra e a todos os seres elementais. Peça para que jamais lhe falte sustento e lembre-se de todas as pessoas que passam fome no mundo, mentalizando soluções para o sofrimento. Leve um pedaço do bolo ou pão e deixe como oferenda em uma árvore, junto com uma espiga de milho e uma fruta. Ofereça-os como gratidão às deusas dos grãos e assuma o compromisso de ajudar as crianças carentes ou abandonadas.

- Acenda uma vela azul e um incenso de jasmim, coloque uma música suave e mentalize uma nuvem azul envolvendo todo o planeta. Concentre-se naquelas áreas que estão em conflito. Peça pela paz no mundo. Emita vibrações de cooperação e compreensão, sem procurar soluções específicas, apenas afirmando a intenção de paz.

- Ofereça à deusa Juno uma vela rosa ou vermelha e um figo coberto com mel, toda vez que precisar conversar com o seu parceiro ou precisar de ajuda no relacionamento. Peça-lhe ajuda para encontrar compreensão para ambos.

- Renove suas energias preparando um banho com essência de pinheiro. Faça uma massagem com óleo de bétula e medite sobre a maneira pela qual você nutre o seu corpo, mente e espírito. Invoque a Grande Mãe e ofereça-lhe flores brancas, leite e mel, pedindo harmonia, saúde e proteção.
Fonte:Bruxaria.net

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A VISÃO DA WICCA SOBRE O SAGRADO

A VISÃO DA WICCA SOBRE O SAGRADO
Não há problema algum se a definição da Deusa na Wicca difere ou não da definição judaica de Deus. Não haveria problema algum se a definição da Deusa na Wicca fosse semelhante àquelas que encontramos acerca do Sagrado no Hinduismo, no Candomblé, na Huna havaiana ou em qualquer outra religião ou sistema espiritual...

O que importa é o resultado que atingimos com as experiências e conexões que surgem à partir da definição que estabeleço e funciona para mim no meu processo de relação com a Divindade.
E sim, a Wicca ao contrário das outras crenças é uma religião que dá um grande valor às experiências pessoais que às vezes podem ter pouco ou nada em comum com as outras pessoas. Não devemos confundir coesão filosófica e ritualística com a visão individual que às vezes estabelecemos e que surgem naturalmente través de nosso contato pessoal e intransferível com os Deuses. Isso significa que, as ferramentas, temas e simbolismos que usamos para acessar os Deuses são comuns à maioria dos praticantes da Wicca. É a interpretação dessas experiências que diferem porque são resultados de nossas próprias percepções, que são altamente individuais, pessoais e porque não dizer limitadas.
Para elucidar um pouco algumas questões levantadas, compartilho com vocês um texto que está em meu livro WICCA PARA TODOS e que responde exatamente alguns desses questionamentos.

O Divino para a Wicca é considerado o centro da energia de todas as coisas que existem. A vida é uma inquebrantável teia de energia vibrante e esta energia é Divina. A maioria dos Wiccanianos compreende esta energia como a Deusa e entende o universo inteiro como o corpo Dela - incluindo a energia física e mental, assim como as forças da natureza e as leis da física.
O Divino é então imanente, o que significa que ele está aqui, neste momento e presente em todo o mundo: é a natureza manifestada.
Porém, outros Wiccanianos entendem o Divino de maneira diferenciada. Vamos explorar as diferentes visões sobre o Sagrado reconhecidas pelos praticantes da Arte, para que você se situe nesse vasto universo de crenças e perceba qual das formas se encaixa melhor na sua forma de ver o Divino durante seus rituais e invocações.


O DIVINO COMO A DEUSA PRIMORDIAL

O Divino é a Deusa primordial. Ela é a fonte de toda a vida, e a força vital provém e flui através Dela. A Deusa é a Deidade primordial, sobrenatural, a força criativa de toda a vida. Se existe um Deus, ele é o filho, consorte, ou uma manifestação da Grande Deusa. Qualquer outra divindade que possa existir provém Dela. Na realidade, as múltiplas divindades reconhecidas e invocadas podem ser vistas como diferentes aspectos da Deusa. Pensemos em um imenso corpo (Deusa) que possui e é formado por vários órgãos e membros (Deuses). Nenhum dos órgãos e membros (Deuses) vivem e atuam aparte do corpo (Deusa) e necessitam estar plenamente presentes nele para realizar suas funções com êxito. Assim, os muitos arquétipos Divinos e Deuses não são encarados como “criações” ou forças que vivem aparte deste imenso corpo Divino, mas fazem parte dele.

Da mesma maneira que o pé não desempenha as mesmas funções da mão ou do coração, quando invocamos ou chamamos uma divindade por este ou aquele nome é como se estivéssemos usando uma ou outra parte de um imenso organismo vivo. Quando dizemos que todas as Deusas são a Deusa e todos os Deuses são o Deus, estamos vendo o Divino por esta perspectiva. Como autora e Sacerdotisa Diânica Ruth Barrett diz: “existem somente dois tipos de pessoas no mundo: as mães e seus filhos”.
Neste grande corpo divino não estão presentes somente os Deuses, mas nós também. Todos fazemos parte dele e vivemos nele. A vida só é possível porque este corpo divino (a Deusa) vive. Quando invocamos esta ou aquela divindade estamos interagindo com as diferentes parte deste organismo divino da mesma forma que o coração interage com as artérias, que interage com o sangue, que circula por todo o corpo, interagindo inclusive com as bactérias que vivem no organismo. E assim tudo está unido numa teia sem fim.
Mesmo sendo imanente, o Divino é transcendente no sentido de que é um ser pensante, criativo e sobrenatural independente.

DIVINO COMO FONTE PRIMORDIAL

Muitos Wiccanianos estão reconciliando suas crenças espirituais com os ensinamentos dos novos físicos que desenvolveram a teoria chamada de Sutil Não-manifesto.
De acordo com as novas visões propostas pela física, o Divino é uma inteligência divina ativa e criativa, a fonte da energia para tudo o que existe.

De acordo com essa teoria, esta inteligência divina existia antes que o cosmos fosse formado e toda realidade provém dela. Tudo está conectado porque toda a realidade flui da fonte primordial, que abrange todo o tempo e espaço, todas as dimensões e planos de existência. Tudo o que existe se desdobra a partir desta fonte e então retorna a ela, num ciclo sem fim.

As pessoas continuadamente têm novas experiências e adquirem conhecimentos e insights. Todas estas informações se tornam parte da fonte primordial de energia e a fonte se expande e evolui. As pessoas são parte desta fonte, assim elas também evoluem, crescem e alcançam níveis mais sofisticados de inteligência. A fonte, o coração energético que alimenta o cosmos, está sempre em movimento, avançando e evoluindo. As pessoas também são parte desta evolução e são peça chave nesse avanço.
Nossa própria inteligência e percepção nos permite perceber esta fonte. Nossa consciência age como uma ponte entre o mundo real e esta inteligência divina.
Através de nossas consciências, acessamos informações de nossas experiências no mundo e compartilhamos com o Divino e através de nossa consciência também podemos receber informações desta fonte primordial de energia para usá-la no mundo.
Esta visão é consistente e compatível com a maneira através da qual o Paganismo encara sua relação com o Sagrado. Mesmo que a linguagem e teoria física sejam contemporâneas, ela não é diferente da idéia da Deusa primordial como força vital e um ser criativo.

A NATUREZA DA DIVINDADE

Muitos Wiccanianos honram e cultuam múltiplas divindades. O entendimento do que os Deuses são de verdade varia enormemente entre as pessoas e Tradições. Estes seres podem ser vistos como diferentes aspectos ou partes da Deusa ou entidades separadas Dela. Alguns compreendem os Deuses como seres sobrenaturais, forças da natureza ou arquétipos.
Alguns Wiccanianos honram e cultuam a Deusa e o Deus e não se sentem forçados ou inspirados a nomeá-los. Outros, sentem fortemente que devem nomear seus Deuses para honrá-los, cultuá-los e interagir com eles.

Uma vez que o inconsciente coletivo é inerente a todos os povos da Terra, os muitos mitos que as diversas culturas produzem são semelhantes, mesmo que estes grupos estejam completamente separados pelo tempo e regiões. No interior do inconsciente coletivo estão presentes os arquétipos, ou seja, as figuras que aparecem constantemente nos mitos e religiões de todos os povos: a Grande Mãe, o Pai Céu, o Guerreiro, a Criança Divina etc. No interior deste universo pessoal vive também um arquétipo que Jung nomeou de “Self”. Esta é a parte de nós que está além de nosso Eu cotidiano, é aquela parte de nós que sobrevive além da morte do corpo. É com este material do inconsciente coletivo que a Wicca trabalha: o arquétipo dos Deuses, o Self e a relação entre eles.
Os arquétipos dos Deuses servem como arquétipos duplos de forças divinas que se movem no universo e no mundo exterior, mas ao mesmo tempo são arquétipos de nossa própria divindade interior, o Self. Quando invocamos a Deusa e o Deus nos sintonizamos com a centelha divina dentro de nós.
Este conceito, de que estamos ao centro de nossa Divindade, é difícil para ego alcançar. Geralmente vemos o Divino dentro de nós como uma divindade externa, mas ele é a manifestação da divinização da Divindade interior , daquilo que somos e não a Divindade exterior.
Somos tanto humanos quanto Divinos e em nossos encontros iniciais com o Self, podemos percebê-lo não como um Deus ou Deusa mas na forma arquetípica de seres espirituais que encontramos em nossas jornadas meditativas. Geralmente nesses momentos encontramos com a figura do sábio ou da sábia que aparece em nossos sonhos e jornadas de meditação. Na realidade esta figura que se apresenta à nós nessas ocasiões é o próprio Self.

Os primeiros encontros com o Self através dos processos de invocação e ritual podem ser problemáticos, pois o contato com essa essência divina pode criar em nós a sensação de onipotência. Isso acontece porque no decorrer dessa experiência mística, um arquétipo pode seqüestrar o ego. Nessas ocasiões o arquétipo aparece de maneira estranha, como se não pertencesse à consciência e se nos identificarmos com ele, isso poderá causar altos danos mudando nossa personalidade, geralmente causando a megalomania ou o seu oposto.
A identificação com um arquétipo particular de uma Deusa ou um Deus é o centro dos rituais religiosos e mágicos de muitas religiões, inclusive da Wicca. Invocações criam uma mudança temporária dentro de nós, mas a função de todos os sistemas espirituais é tornar essa mudança permanente. Quando puxamos a lua ou o sol para baixo, por exemplo, fazemos uma ponte entre o nosso eu cotidiano, o ego e o nosso Eu Divino. Quanto mais acessarmos este Self através da invocação e ritual, mais e mais esta ponte se fará permanente até que a cruzamos e em vez do nosso ego alcançar o contato com o Self, o centro de nossa consciência será transferido para ele.
Se o Divino está dentro de nós, ele é meramente psicológico, uma construção imaginária? As formas externas dos Deuses são reais?
Podemos dizer que o que estamos personificando de maneira a refletir nosso eu inconsciente é o poder da força divina em termos de símbolos.
Na Wicca podemos dizer que aquilo que está por trás da imagem é uma realidade divina. Estas imagens não são suposições, são verdadeiras expressões da natureza do Divino traduzidas em termos humanos e nós, conseqüentemente, as tratamos com respeito e honra. A total natureza desta realidade está além do nosso entendimento humano e nós, por sua vez, vestimos esta realidade multifacetada em imagens arquetípicas que são expressão da verdade parcial, mas não da verdade completa.
Os Deuses são considerados expressões do Divino dentro da humanidade.

Os Deuses também são considerados forças divinas operando no universo. Se eles são vistos como aspectos de uma força vital impessoal ou como seres cósmicos com uma individualidade, irá depender de nossa própria experiência interna e cada pessoa irá interpretar isso de maneira diferente. Porém, na Wicca,ambos os conceitos da natureza do Divino repousam nas antigas interpretações Pagãs de dois grupos de filósofos gregos: os Neoplatônicos e os Estóicos.
Os Pagãos Neoplatônicos viam o Divino como um ser que era de uma natureza diferente da humanidade, fora do mundo criado da transcendência. Os Estóicos acreditavam que o universo era Divino por si só e que os seres humanos eram parte desta divindade. Na Wicca contemporânea a maioria das pessoas aceita que o Divino é imanente, enquanto outras pessoas acreditam que ele também é transcendente.
Macha Nightmare explica isso muito bem em um trecho do seu livro Witchcraft and the Web:

''Muitos de nós experienciamos o Divino como imanente, em vez de transcendente, porém podemos também experimentar o Divino em formas que transcendem e de maneira que transformem. Vemos a divindade dentro do mundo e como o mundo; o mundo não está separado do sagrado. Em um de seus livros o Alto Sacerdote Gardneriano, Gus diZerega nota que ‘o mundo nunca está completamente separado do Sagrado, e então ele possui intrínsecos valores que somos obrigados a respeitar, e que é um pouco independente de nossas próprias preferências’. Ele mais pra frente explica: ‘Quando vemos a espiritualidade Pagã como um todo, iremos encontrar uma extensa ênfase ao longo deste ponto. Algumas pessoas irão enfatizar a dimensão Divina transcendente...outros irão enfatizar mais as dimensões espirituais imanentes...mas ao menos todas as tradições Pagãs reconhecem a existência de ambas dimensões’.

Panteístas vêem o Divino em tudo, acreditando que o Divino é onipresente. Eles concebem o universo físico como Divino em sua totalidade. Uma de suas visões é a imanência.
Panenteístas, no entanto, concebem o Divino de duas formas como transcendente e imanente. Irei descrever a mim mesma como sendo panenteísta. Percebo a Deusa preenchendo e imbuindo todas as coisas, incluindo meu próprio ser. Eu a vejo na vasta visão do horizonte do ponto mais alto, em rios cintilantes, nos gansos que migram e em passeios pela calçada na cidade; ela existe para mim nas latas de lixo, no correr das ratazanas e nos rubis brilhando em vermelho; Ela está lá na aurora boreal, em bosques de sequóias e na bolsa de uma mulher. Eu a ouço nos ruídos de uma estrada e nos ruídos do mar, no grito estridente da presa do falcão e no arrulhar do pombo. Seu aroma surge de um amontoado de esterco e do jardim de rosas, do pântano e da lótus. Eu a respiro a cada respiração, e caminho no tempo com o seu caminhar.
Se Panenteísta é um termo apropriado para descrever minhas crenças e experiência, politeísta também é. [.....]
A maioria do tempo, percebo as deidades como sendo separadas de mim mesma, entidades para se aproximar com reverência e tratar com honra e dignidade- exceto por aquelas entre elas que não têm nada a ver com dignidade. Mas algumas vezes surgiram circunstâncias onde chamava o Divino para falar através de mim. Desde o início, o Divino, quando se manifestou no meu corpo, foi feminino [.....] Quando experimento a mudança de consciência que me transforma em alguma deidade manifestada no meu corpo me sinto extática, no sentido que eu saio de meu estado normal. A mortal Macha retrocede em mim e permite ao Divino falar. Nessas circunstâncias, minha experiência do Divino é transcendente. Transcendo meu eu humano e me abro para a divindade.
Vamos olhar para mais um dos “teísmos”: o Henoteísmo.

O Henoteísmo trabalha com um conjunto particular de deidades, enquanto não nega a existência de outras. Posso alegremente trabalhar com um único grupo de Deuses, um panteão étnico particularmente- em outras palavras caminhar pela estrada do henoteísmo- quando estou com pessoas que façam desta forma. Tenho dois amigos que, como Sacerdotisa de Hécate e Sacerdote de Hermes, construíram um templo onde realizam rituais de lua negra para as duas divindades, Esta é sua prática religiosa regular. Poderia chamar isso um exemplo de henoteísmo.
Gus diZerega nos diz que, uma vez que vemos o mundo como uma dimensão da divindade, ao contrário de estar separado dela, naturalmente buscamos por outras fontes além de textos para legitimar o conhecimento e discernimento espiritual.
Alguns Pagãos e Bruxos não “acreditam” em nenhuma deidade, mas ainda assim acreditam ser benéfico falar com e para elas e trabalhar com as mesmas no contexto de um ritual em grupo. Refletindo sobre nossas atitudes a cerca das deidades, Erik Davis observa que ‘muitos Pagãos abraçam estes entidades com uma combinação de convicção e frivolidade, superstição, psicologia e materialismo demais’. São nossas práticas compartilhadas, apesar de nossas crenças individuais, que mantêm nossa comunidade unida.”

Como podemos ver, um praticante da Arte pode perceber o Sagrado de diferentes maneiras. O importante não é a maneira como vemos e compreendemos, mas sim se o nosso contato com ele é efetivo e capaz de promover mudanças interiores que nos levam à cura de nossa alma.

As razões de invocarmos os Deuses são muitas

Nas muitas religiões, o ato de invocar expressa uma tentativa de comunicação com uma divindade, espíritos, forças, energias e poderes e tem não só o propósito de culto e veneração, mas também orientação, aconselhamento, auxilio, transformação, reparação de erros e falhas além da expressão dos pensamentos e sentimentos do invocador a uma energia superior.
As muitas tradições espirituais possuem uma variedade incrível de atos devocionais e práticas que envolvem o ato da invocação, de uma maneira ou outra. Várias religiões possuem orações específicas para serem verbalizadas ao acordar ou ao dormir, durante as refeições e dias sagrados, enquanto outras preferem as orações espontâneas e improvisadas como forma de estabelecer contato com o Sagrado. Há religiões, ainda, que combinam as duas formas de invocações.
O ato de invocar, assim, representa:

• A crença de que o ser humano pode se comunicar com o Divino
• A convicção de que o Sagrado é receptivo e é interessado em estabelecer comunicação conosco
• A certeza de que orações e invocações podem incutir determinadas atitudes, sentimentos e forças no invocador
• Que a invocação auxilia uma pessoa a focar em um objetivo ou voltar sua atenção ao Sagrado através de uma contemplação espiritual, filosófica e intelectual
• A afirmação de que a invocação possibilita às pessoas uma experiência direta com o Divino
• A crença de que o ato de invocar afeta a realidade ao nosso redor, como a percebemos
• A convicção de que a invocação se torna catalisadora de mudanças não só nas circunstâncias da vida e terceiras partes beneficiadas, mas acima de tudo no Eu possibilitando a evolução em todos os níveis, principalmente espiritual, para o encontro da Totalidade
• E O MAIS IMPORTANTE: A certeza de que aquele que invoca deseja e aprecia que a Divindade interfira para provocar as transformações solicitadas


Invocações são compostas por palavras, que por sua vez são utilizadas para expressar idéias, conceitos, pensamentos e necessidades. Em suma, as palavras nos definem em muitos aspectos. É a nossa forma mais importante de comunicação. Mesmo no silêncio, quando não estamos dizendo nada aos outros, estamos formulando pensamentos em nossa mente através de palavras. Quando alguém deseja nos transmitir um sentimento, emoção. idéia, opinião ou conceito, palavras são utilizadas para isso.
A fala e as palavras estão intimamente ligadas. De muitas formas, o uso das palavras através da voz é mais do que um mero som produzido por meio das cordas vocais ou seqüência de pensamentos lógicos. É uma corrente transformadora de energia, vida e poder. São as palavras que julgam, salvam, condenam, demonstram, avisam, expressam amor ou ódio. Elas expressam a unidade básica e força do pensamento não só a nível físico, mas energético e espiritual. Se analisarmos bem, perceberemos que elas criam um campo vibracional ao nosso redor, um efeito eletromagnético que faz com que aquilo que verbalizamos se volte para nós próprios. Perceba o quanto a pessoa que utiliza as palavras para incitar o ódio cria tensão ao seu redor de si e o quanto aquele que se vale delas para transmitir o amor atrai as mesmas energia ao seu redor. Se isso é verdade em termos cotidianos, também é uma realidade multidimensional. O que dizemos é arquivado em nossa mente subconsciente, sua energia é gravada em nosso campo áurico, colocando-nos em um estado receptivo para a atração da força invocada através das palavras. Isto é uma lei infalível e desta maneira nossa vida é produto daquilo que pensamos e verbalizamos.


O impulso evolutivo do som cósmico, induzido por vibrações, gera a energia perpétua do universo. O conhecimento do som absoluto descreve o poder sublime do som onipresente como um todo eterno, sem limite. O som é a fonte básica da energia e movimento do universo. Podemos dizer que mesmo a existência física do universo se originou através do impulso cósmico e da onipresente e eterna origem do som.
Em nosso dia a dia nos deparamos com dois tipos de som: o audível e o não audível. As palavras faladas estão relacionadas à primeira categoria de som e as expressas silenciosamente ou por meio da linguagem da mente estão ligadas à segunda categoria.
Teorias dos físicos modernos têm advogado que os sons audíveis e não audíveis são relativos um ao outro em termos de freqüência. As formas ultra e supersônicas são audíveis ao ouvidos da maioria das pessoas, que podem normalmente sentir os sons a um raio de freqüência que vai de 20 a 20000 vibrações por segundo. O som do mar, quebrando na praia a milhas de distância pode não ser audível aos seus ouvidos, mas é real para quem está próximo dele e nem por isso ele deixa de existir. Assim sendo, tanto a categoria de sons audíveis como a de não-audíveis existem na mesma realidade e estão diretamente relacionados.
Nossa vida e até mesmo o cosmos é formado por ondas sonoras com freqüência de todos os alcances, que podem ser traduzidas em sons. Muitos outros animais na natureza estão bem melhor preparados para perceber os sons sutis do que nós humanos, o que demonstra claramente que somos limitados na percepção da realidade ao nosso redor.
As vibrações sonoras daquilo que falamos ou pensamos permanece no universo para sempre e por isso a arte da invocação permite uma extraordinária comunicação com o mundo ao nosso redor e a interação com as sublimes forças cósmicas que no Paganismo chamamos de Deuses. A configuração das palavras que compõem uma invocação a torna importante em termos de efeitos sonoros associados.


Quando invocamos, a composição dos acentos, intensidade vocal, amplitude da voz e ritmos resultam na expansão do desejo no reino infinito da energia física, espiritual e na consciência do invocador. Em função da propriedade única do som uma invocação pode atravessar, através das ondas eletromagnéticas, qualquer coisa no espaço para provocar uma mudança espiritual, pessoal e cósmica.
Importantes pesquisas científicas têm demonstrado a importância da energia sônica em inúmeras áreas de interesse, indo desde aplicações das tecnologias ultra-sônicas até as infra-sônicas em máquinas usadas na medicina para medir as ondas cerebrais e visualizar o que se passa no interior do corpo humano.
Podemos sentir muito mais facilmente os efeitos das energias termais, elétricas e hídricas sobre o nosso corpo do que a energia sonora, mas nem por isso ela deixa de ser importante e poderosa. Qualquer forma de som tem um efeito similar sobre nós ao de qualquer outra fonte de energia.
O intuito do uso das invocações nos rituais é levar o ser humano a um estado alterado de consciência, aquele apropriado para ser usado nos rituais e práticas mágicas. O que precisamos é saber como adequadamente gerar, transformar e direcionar essa força para que ela não seja apenas sentida através de nosso estado psicológico e emocional, mas torne-se uma experiência real e intensa capaz de produzir alterações magicamente perceptíveis. Toda invocação pode fazer isso e esta é a razão pela qual elas são usadas de forma tão bem-sucedida desde tempos imemoráveis em todas as formas de religião.

RAZÕES PARA INVOCAR

Além de ser a maior expressão devocional entre nós e o Divino, o uso das invocações, orações e textos sagrados nos rituais ou no dia a dia pode representar muitas outras coisas e servir para inúmeros propósitos:

Centrar-se no momento presente: Nossa mente na maioria das vezes está no passado ou no futuro, o que por si só é uma ilusão. O verdadeiro momento de poder é agora. Poucos são os que conseguem se focar no presente de maneira clara e direta. Ao usar as invocações em nosso cotidiano estamos de maneira simples nos centrando no nosso mundo imediato. Desta forma conclamamos nossos 3 estados mentais, os Deuses e as forças da natureza para o momento presente de nossas vidas. Fazer uma invocação a um Deus da abundância quando precisamos de prosperidade, a uma Deusa da cura quando estamos acamados ou a uma divindade do amor e beleza quando precisamos aumentar nossa auto-estima, é uma forma simples e eficaz de focar nossa atenção naquilo que precisamos trabalhar imediatamente.

Conectar-se mais profundamente com o divino: Invocar significa fazer presente, tornar manifesto. O uso freqüente das invocações cria um forte laço de conexão com o Divino nos levando a experienciá-lo de maneira profunda, de forma a podermos mergulhar em sua essência mais pura e direta. Quando fazemos nossas orações e invocações a uma deidade, estamos estabelecendo um laço de amizade com ela. Isso aos poucos fará com que nossa relação com o Divino seja ampliada e que ele zele por nós em diversos momentos de necessidade.

Relaxar o corpo e a mente: Mente e corpo são inseparáveis e a mente agitada produz inevitavelmente um corpo cansado, estressado e sobrecarregado. Parar por alguns momentos diariamente em frente ao seu altar e invocar seus Deuses de devoção é uma forma de meditação espontânea que o ajudará a relaxar sua mente enquanto ao mesmo tempo a eleva ao sagrado. Assim, o corpo também relaxará por alguns instantes.

Quanto mais longa for sua invocação e relação devocional diária com os Deuses, maior será a paz e relaxamento direcionados não só para a sua mente e corpo, mas também para cada área de sua vida, o que inclui mas não se restringe à saúde, paz, equilíbrio interior e relações humanas de toda natureza.

Centrar, aterrar e equilibrar: Na Wicca, assim como em muitos outros caminhos Pagãos, o ato de centrar, aterrar e equilibrar ocupa um espaço importante antes, durante e depois dos rituais. Centrar significa voltar nossa atenção ao interior para estabelecer o verdadeiro propósito de um ritual, meditação ou trabalho mágico. É nesse momento que analisamos se nosso Eu Interior verdadeiramente deseja aquilo que aparentemente ansiamos, ou se tal desejo é somente uma projeção da vontade superficial do Eu Lógico ou Jovem e não possui importância alguma para o real significado de nossa existência. Aterrar é uma forma de enviar as energias criadas durante o decorrer de um ritual para a sua fonte de origem. Aterrar também pode ser compreendido como um chamado destinado a nossa mente para que ela retorne à sua forma mundana de pensar e racionalizar, após ser alterada para fazer magia e se comunicar com o Sagrado. Equilibrar, expressa o ato de colocar um sentimento, desejo, emoção e energias em total harmonia para manifestar aquilo que é desejado espiritualmente ou fisicamente. Tudo isso pode ser alcançado através do uso de invocações programadas ou espontâneas no início, meio ou fim de um ritual ou prática mágica.

Ampliar suas qualidades: Invocações também podem ser usadas para ampliar suas qualidades positivas, dons e potencialidades. Podemos invocar não somente Deuses, mas atributos pessoais que possam estar adormecidos dentro de nós e que podem ser despertados quando proferimos uma invocação. Quando estiver cansado, invoque a energia vital. Ao se sentir desmotivado, chame pela força interior. Se estiver amedrontado perante os obstáculos e barreiras da vida, faça uma invocação à coragem do guerreiro que existe em você.

Isto também é uma forma de invocação e não deve ser menosprezada.

Desenvolver a gratidão e o amor: Muitas são as orações e invocações que externam o amor e gratidão em suas múltiplas manifestações. Quando proferimos as palavras que compõem estas belas formas de poesia mágica, estamos despertando a compaixão tão esquecida, mas fortemente presente em cada um de nós.

Despertar a dimensão espiritual do ser: Invocações também são ferramentas capazes de acordar o ser para a sua dimensão espiritual. Ao invocar uma Deidade, estamos mergulhando em sua essência e consciência divina. O intuito disso é fazer que com o passar do tempo a nossa mente e a da Divindade estejam em perfeita unidade, de forma que possamos agir e pensar de maneira divina.

Conforme a arte da invocação fizer parte de sua vida, abrindo sua visão para a compreensão do Mistério, você naturalmente verá através do véu das aparências que ocultam a realidade sagrada. O uso continuado das invocações no dia a dia possibilita que o Sagrado e o mundano sejam apenas um, estejam unidos em essência eliminando a aparente separação entre nós e o mundo dos Deuses.
Resposta:
A Wicca não é pode ser definida apenas como uma espiritualidade ou apenas uma filosofia ou modo de vida. Ela possui todas as características de uma religião.

Segundo o Dicionário:

"A Religião pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental"

Aqui temos a Deusa como a fonte e origem de todas as coisas. Dela viemos e para ela retornaremos. Ela é a causa primeira de toda existência. Ela se manifesta imanentemente na natureza e em todas as coisas que existem e transcendentalmente, o que significa que ela também está além desse tempo e espaço.

"bem como o conjunto de rituais"

A Wicca possui um calendário litúrgico com 8 Sabbats (Rituais sazonais) e 13 Esbats (Rituais de plenilúnio). Além disso, existe todo um corpo estruturacional de como esses rituais são realizados com temas e simbolismos comuns à maioria dos praticantes da Wicca. Todos os rituais se iniciam com o lançamento do círculo, invocação aos quadrantes, aos Deuses e terminam com o destraçar do Círculo. Não importa se você esteja aqui, no Estados Unidos, na Inglaterra, no Japão ou no Tibet. Se lá existir um Wiccaniano ele iniciará seus rituais usando o mesmo procedimento, ou algo muito semelhante, que qualquer outro Wiccaniano em qualquer lugar do mundo usaria. É esta coesão que caracteriza uma religião. Uma seita não tem coesão em sua simbologia, filosofia e ritualística.

"e códigos morais que derivam dessas crenças."
Na Wicca existem 2 códigos morais simples que são observados: O Dogma da Arte e a Lei Tríplice
O Dogma da Arte, também chamado de Rede Wiccaniana, é um código moral simples que diz "Faça o que desejar, sem a ninguém prejudicar". É seguido por todos os praticantes da Wicca, ou ao menos deveria ser, assim como os 10 mandamentos deveriam ser seguidos por todos os Cristãos.
A Lei Tríplice é outro fundamento Wiccaniano aceito e que afirma que "Tudo o que fazemos para o bem ou para o mal volta a nós triplicado e nesta encarnação". Trata-se de um fundamento, derivado do Dogma da Arte, e que é comumente aceito por todos.

A Bruxaria tem sua própria filosofia sobre a reencarnação e vida após a morte, como toda e qualquer religião, assim como também possui códigos de ética e conduta que todos deveriam respeitar e seguir para guiar suas vidas.

A Wicca é vista pelos seus praticantes como uma religião que inclui uma forma de vida e por isso inclui uma filosofia religiosa, de ética e de conduta pessoal, permitindo a manifestação da individualidade religiosa como é sentida, mas encorajando a responsabilidade social e ambiental.

Isso é completamente diferente do caso do Xamanismo, que você citou. Apesar de existirem traços em comum entre as diferentes formas de Xamanismo ele é muito diverso e se apresenta de maneira diferente em cada parte do planeta. As forças, espíritos e Deuses observados em cada região são específicos para cada região e/ou tribo. Há total falta de coesão e unidade. Isso certamente não acontece na Wicca.

Certamente existem muitas variações de crenças e conceitos entre os vários ramos da Wicca. Embora os ritos, símbolos e costumes possam ser diferentes, todas as Tradições apóiam-se em pontos comuns e reverenciam os mesmos Deuses, observando os mesmos rituaisé e liturgia. É essa coesão que caracteriza uma religião.



Fonte: Claudiney Pietro