esse sempre foi o problema que eu encontrei em relação a essa visão da bruxaria, "a bruxaria", enquanto religião, pois não existe só um tipo de bruxa, não existe só um tipo de prática bruxa, não existe só uma origem para a bruxaria. Claro, isso do ponto de vista de uma análise dos dados históricos que possuímos.
Se nós formos levar em conta nossos mitos, sabemos, que os Antigos transmitiram o poder a um grupo específico; às primeiras rainhas bruxas e a seus filhos, daí o povo mágico guardião da linhagem e dos mistérios. Todavia, quanto mais remexemos nisso, mais percebemos que a bruxaria existiu e se espalhou por toda a terra, de suas entranhas aos locais mais altos, e, em cada lugar ela se manifestou de uma forma distinta, com regras distintas e muitas vezes com objetivos completamente diferentes.
Poderíamos dizer que a bruxaria é uma religião de várias tradições? Claro que sim, mas até o termo religião complica essa estória, pois nós precisamos nos "religar" a que ou quem? Enquanto bruxos, de fato, sabemos que somos parte de um todo, que não é possível separar as forças que habitam esse mundo (e o outro), pois todas elas convergem, todas elas passam pelo mesmo ponto em comum onde tudo existe - onde tudo é, foi e será.
Assim, a bruxaria não é um ponto de apoio espiritual, não é uma doutrina de comportamento social, não é um sistema de desenvolvimento pessoal, ela é a fonte do conhecimento divino, a fonte do conhecimento para se adentrar nos mistérios da vida e saber, por meio disso, o que de fato somos, o que podemos e o que devemos fazer em relação ao mundo e não apenas em relação a nós mesmos.
Só que a grande questão, em meu ver, é que nós só conseguimos alcançar esse tal conhecimento por meio das estruturas que formamos, doutrinas, liturgias e etc., pelos grupos e religiões que desenvolvemos. Então: nossas tradições são nossas religiões e nossa ferramenta de acesso, nosso ofício, nossa arte, é a bruxaria, ela é o contexto de inserção, não é uma criação humana, não é uma instituição.
Outro fator que me incute essa questão é o fato de existirem diferentes formas de acesso aos Guardiões e a todos os seres do outro mundo, não há apenas a forma “x” e ponto, não existe só um tipo de ritual, só um tipo de invocação, só um tipo de pessoa capaz de chegar lá, a variedade é muito grande para se dizer que a bruxaria é uma religião, ela em si. Ai eu entro novamente naquela questão: o cristianismo não é uma religião, o paganismo também não, eles são contextos religiosos em que se inserem várias religiões, eu vejo a bruxaria como algo similar, mas que vai um pouco além disso tudo, é algo que abarca todos os contextos, que pode estar em qualquer lugar onde se busque e se aceita ela como um caminho, como uma ferramenta.
Dayne anglius
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